quinta-feira, 16 de novembro de 2006

23 de Janeiro de 1905 - "A falsificação dos phosphoros e a imperfeição das suas caixas"

Hoje diremos também duas palavras em favor dos povos.
E’ da da falsificação dos phosphoros, e da imperfeição das caixas, que vamos fallar.
Os contractos que os governos fazem são, todos sempre uns e a mesma coisa.
Antes do monopolio dos phosphoros ainda se podia ver a boa fabricação não só d’aquelle combustivel como tambem das caixas que eram perfeitas.
Hoje são imperfeitas todas.
Não tem a aspereza ou a lixa precisa, para n’ellas se fazer lume, desfazendo-se antes de se gastarem os phosphoros, que teem; de tal modo que os que restam, depois d’ella acabar, não se podem accender, e ficam por consequencia inutilisados.
Tambem não teem o numero de phosphoros que deviam ter, porque os governos é que teem a culpa de não obrigarem a companhia a cumprir o contracto, o que resulta para nós , um prejuizo enorme; o que dá tambem o resultado de o povo não poder fazer uso do phosphoro de enxofre, porque a companhia não é obrigada a fabrrical-os.
Se aparecem alguns é porque ainda ha quem tenha um bocado de abilidade para os fabricar e o que dá occasião a isso é a Companhia não cumprir o contrato nem haver quem a obrigue a cumpri-lo.
E os povos a soffrerem isto pacificos, e a empregarem o seu dinheiro n’um objecto, que elles sabem, que é imperfeito e falsificado, e que não merece esse dinheiro, que com tanto trabalho adequirimos, mas que temos de comprar pelo motivo de ser prohibido fabrical-os em nossas casas, e porque não podemos passar sem elles.
Quantos pobres ha, que não teem para comprar uma sardinha, e hão-de ter para os phosphoros, para engordar os monopolistas e áquelles que lh’os concedem.
Em tempos que já lá vão um dos governos pensou em remediar este mal, mas tal remedio nunca apareceu, e o povo é que vae sofrendo as consequencias e só elle é que tem a culpa de soffrer resignado todas as albardas que lhe queiram pôr em cima.

O Povo de Cantanhede

Recolhido por: José Santiago
Colocado por: José Santiago

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