O ex–imperador Carlos, contra os que davam a sua aventura como fracassada, deve a estas horas, se o telegrafo nos não engana, estar ás portas de Buda–Pest, para cingir a corôa de Santo Estevam.
Na breve des deux houdes, Poincaré salientou há dias o que havia de perigoso para os Estados Petite Entente, no que ele não receia quasi chamar a primeira restauração dos Habsburgos. O chamado grande erro do Tratado de Versailles – ou seja a pulverização da Áustria e a conservação confederativa da Alemanha – começa a dar os seus resultados.
A Hungria reclama para si o direito de escolher um soberano que os soldados e o povo recebem com aclamações.
Marcará, porventura, este facto reviramento no sentido de se atribuir a um dos países danubianos o prestigio inapagado da monarquia dualista?
Por enquanto, é cedo ainda largas previsões, mas o que podemos afirmar é que o drama europeu, tão variado de espírito e paisagens espectaculares, vai despertar na Hungria e povos da mesma extracção, fortes labaredas que hão de alimentar um enorme incêndio.
Diz–me que o ex–imperador Carlos não tem a envergadura requerida, para dirigir acontecimentos em que um dia ele poderá ficar esmagado. Talvez assim seja, mas, com ou sem a sua assistência, os factos nem por isso deixarão de ter uma eloquência extraordinária.
A Europa busca o seu equilíbrio, a sua pacificação. O estado de coisas que a guerra veio perturbar e destruir não dá indícios de renascer. O novo equilíbrio das classes tem de fazer–se em condições bastante diferentes, congregando–lhe interesses hoje autagonicos.
Na Hungria, o problema politico toma aparentemente a dianteira ao problema social. Não nos iludamos. A Europa que pensa e sente, trabalha e luta, conhece bem as causas da inquietação que nos atormenta.
Já Edmond Goncourt, com o admirável instinto da sua arte, disse que chegaria uma época em que outras elites, outras forças dominantes mudariam a face do mundo. A sua profecia realiza – se.
Mesmo que o ex–imperador Carlos consiga, contra a vontade dos seus vizinhos das grandes potencias, transformar a sua aventura num reinado sem ameaças exteriores, ele ver–se–á exposto a todas as incertezas e alternativas do conflito social.
Terá de a energia e a inteligência necessárias para ajudar a sua solução, mantendo a sua pessoa como indispensável elemento de ponderação e correcção?
Se assim fizer, tornar–se-a o verdadeiro fundador duma dinastia, única na historia.
No caso contrario, o seu destino não admite duvidas: a Hungria será para ele um inferno.
Na breve des deux houdes, Poincaré salientou há dias o que havia de perigoso para os Estados Petite Entente, no que ele não receia quasi chamar a primeira restauração dos Habsburgos. O chamado grande erro do Tratado de Versailles – ou seja a pulverização da Áustria e a conservação confederativa da Alemanha – começa a dar os seus resultados.
A Hungria reclama para si o direito de escolher um soberano que os soldados e o povo recebem com aclamações.
Marcará, porventura, este facto reviramento no sentido de se atribuir a um dos países danubianos o prestigio inapagado da monarquia dualista?
Por enquanto, é cedo ainda largas previsões, mas o que podemos afirmar é que o drama europeu, tão variado de espírito e paisagens espectaculares, vai despertar na Hungria e povos da mesma extracção, fortes labaredas que hão de alimentar um enorme incêndio.
Diz–me que o ex–imperador Carlos não tem a envergadura requerida, para dirigir acontecimentos em que um dia ele poderá ficar esmagado. Talvez assim seja, mas, com ou sem a sua assistência, os factos nem por isso deixarão de ter uma eloquência extraordinária.
A Europa busca o seu equilíbrio, a sua pacificação. O estado de coisas que a guerra veio perturbar e destruir não dá indícios de renascer. O novo equilíbrio das classes tem de fazer–se em condições bastante diferentes, congregando–lhe interesses hoje autagonicos.
Na Hungria, o problema politico toma aparentemente a dianteira ao problema social. Não nos iludamos. A Europa que pensa e sente, trabalha e luta, conhece bem as causas da inquietação que nos atormenta.
Já Edmond Goncourt, com o admirável instinto da sua arte, disse que chegaria uma época em que outras elites, outras forças dominantes mudariam a face do mundo. A sua profecia realiza – se.
Mesmo que o ex–imperador Carlos consiga, contra a vontade dos seus vizinhos das grandes potencias, transformar a sua aventura num reinado sem ameaças exteriores, ele ver–se–á exposto a todas as incertezas e alternativas do conflito social.
Terá de a energia e a inteligência necessárias para ajudar a sua solução, mantendo a sua pessoa como indispensável elemento de ponderação e correcção?
Se assim fizer, tornar–se-a o verdadeiro fundador duma dinastia, única na historia.
No caso contrario, o seu destino não admite duvidas: a Hungria será para ele um inferno.
Diário de Lisboa
Recolha: Mariana Alves
Colocado por: André Pereira
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