A rádio era uma invenção assombrosa e recente há 100 anos, mas já era
usada há meia década como meio de comunicação de longa distância em
alto mar. Foi a rádio a principal responsável pela captura do Dr. Hawley
Harvey Crippen e da sua amante, que tentavam realizar uma discreta fuga
para a América. No seu plano de fuga, Crippen não contava com o avanço
tecnológico.
Em 31 de janeiro de 1910, Crippen (50) envenenou sua mulher, a
polonesa Cora Henrietta e, vai anotando aí, desmembrou seu corpo,
queimou os ossos e enterrou o que restou do cadáver em vários pontos do
porão de sua casa na zona norte de Londres. Para quem estranhava seu
misterioso sumiço, ele dizia que a mulher tinha viajado para a América,
para depois dizer que Cora havia falecido nos Estados Unidos.
Os vizinhos estranharam a história e a estranha presença de sua
secretária (na verdade a amante, Ethel le Neve, de 27 anos) instalada na
casa e usando as roupas e joias da falecida. Chamaram a polícia, que
revirou a casa e acabou encontrando os restos mortais da esposa do Dr.
Crippen, já na Bélgica àquela altura. A famosa Scotland Yard empreendeu
uma verdadeira caçada ao assassino e sua amante que só teve sucesso pela
participação de uma discreta aliada: a tecnologia.
Entra em cena o capitão Kendall, Comandante do SS Montrose,
entusiasta de histórias policiais e do avanço da ciência. Foi ele quem
reconheceu Clipper e sua amante (disfarçados de pai e “filho”) a bordo
do navio que rumava para o novo continente. Suas pistas foram um bigode
recém raspado, marcas de um par de óculos que o suspeito não usava e o
fato dele andar pelo convés de mãos dadas com o “rapaz”, o que já
levanta suspeitas hoje, imaginem há cem anos.
Capitão Kendall correu para o rádio e avisou a Scotland Yard por
telegrama. Seguiu-se uma alucinante (lembrem-se, estamos em 1910)
perseguição naval com o Laurentic, uma embarcação menor e mais ágil, e
com o inspetor Walter Drew a bordo, partindo a toda velocidade.
Encontraram-se já na costa canadense, onde, disfarçado, o inspetor
finalmente capturou o maníaco e sua amante.
O mais interessante: dias antes, o próprio Clippen, disfarçado, havia
comentado com o Capitão que “invenção notável” era a tal rádio. Invento
esse que pouco depois providenciaria sua prisão. A história acabou no
cinema quatro vezes: os alemães “Dr. Crippen an Bord (1942), Dr. Crippen
Lebt (1958), o americano “Dr. Crippen” (1962) e o inglês "The Last
Secret of Dr. Crippen" (2004). Hawley Crippen não assistiu a nenhum
deles. Acabou enforcado.
fonte
Café Beira Gare
Há 6 dias
0 comentários:
Enviar um comentário