segunda-feira, 2 de julho de 2012

26 DE MAIO DE 1902 - Experiências de TSF no Cruzador D. Carlos

A 26 de Maio de 1902, são efectuadas mais algumas experiências de T.S.F. Trocaram-se mensagens entre a estação de semáforos de Cascais e o cruzador “D. Carlos”; a estação estava apetrechada com um equipamento da marca Slaby & Arco.
Esta experiência de T.S.F. apenas mereceu umas linhas explicativas do feito na imprensa da época. Entre outras noticias apenas o titulo «Telegraphia sem fios» se destacava.

Na revista “T.S.F. em Portugal” no n.º 17 de 1 de Março de 1925, está escrito que esta experiência entre o cruzador “D. Carlos” e a estação de semáforos de Cascais foi a primeira efectuada em Portugal, mas já tinham sido feitas várias experiências em território português, o que aconteceu em 1902, foi que, provavelmente, pela primeira vez houve civis encarregados das transmissões.
Em 1903, o navio mercante “Portugal” também foi equipado com um posto de T.S.F. da marca Slaby & Arco. Este foi o primeiro navio mercante português equipado com Telegrafia Sem Fios.

MAIS DETALHES SOBRE A EPOPEIA DA TELEGRAFIA SEM FIOS EM PORTUGAL

1904 - Desarranjo no leme e sinais marcónicos

O Morning Leader publica uma interessante notícia sobre a utilização do telégrafo sem fios, num recente sinistro marítimo (01.03.1904).

"Em fins de Dezembro último o transatlântico “Kroonland”, registado na praça d’Anvers, dirigia-se da Europa para a América com um grande número de passageiros e carregamento completo.
Ao fim de 4 dias de viagem um desarranjo no leme fez com que se tornasse impossível todo o governo do barco.
(...)

Depois de baldados esforços para reparar a avaria, o comandante, Mr. John Harker, determinou que fossem feitos sinais marconicos, utilizando o aparelho que recentemente fora instalado a bordo. Feita a transmissão do despacho noticiando a situação em que se encontravam, não tardou que lhe fosse dado o sinal de entendido.
Fora o posto semafórico de Crookhaven, perto da cidade de Natry, na Irlanda, quem primeiro recebera o despacho, acusando a sua recepção.

Imediatamente foi notificado aos agentes da “American Line”, a que o vapor pertence, o ocorrido e estes mandaram sair de Quunstown [sic] socorros prontos, entrando o “Krookland” naquele porto a reboque.
(...)
Todos os paquetes da “American Line” ao serviço desta carreira foram ultimamente dotados de aparelhos Marconi."
"Telegrafia sem fios", in A Tarde, n.º 4845, ano XVII, 1 de Março de 1904, p.2.
fonte

1910 - A rádio ajuda a apanhar tenebroso assassino em alto mar

A rádio era uma invenção assombrosa e recente há 100 anos, mas já era usada há meia década como meio de comunicação de longa distância em alto mar. Foi a rádio a principal responsável pela captura do Dr. Hawley Harvey Crippen e da sua amante, que tentavam realizar uma discreta fuga para a América. No seu plano de fuga, Crippen não contava com o avanço tecnológico.

Em 31 de janeiro de 1910, Crippen (50) envenenou sua mulher, a polonesa Cora Henrietta e, vai anotando aí, desmembrou seu corpo, queimou os ossos e enterrou o que restou do cadáver em vários pontos do porão de sua casa na zona norte de Londres. Para quem estranhava seu misterioso sumiço, ele dizia que a mulher tinha viajado para a América, para depois dizer que Cora havia falecido nos Estados Unidos.

Os vizinhos estranharam a história e a estranha presença de sua secretária (na verdade a amante, Ethel le Neve, de 27 anos) instalada na casa e usando as roupas e joias da falecida. Chamaram a polícia, que revirou a casa e acabou encontrando os restos mortais da esposa do Dr. Crippen, já na Bélgica àquela altura. A famosa Scotland Yard empreendeu uma verdadeira caçada ao assassino e sua amante que só teve sucesso pela participação de uma discreta aliada: a tecnologia.

Entra em cena o capitão Kendall, Comandante do SS Montrose, entusiasta de histórias policiais e do avanço da ciência. Foi ele quem reconheceu Clipper e sua amante (disfarçados de pai e “filho”) a bordo do navio que rumava para o novo continente. Suas pistas foram um bigode recém raspado, marcas de um par de óculos que o suspeito não usava e o fato dele andar pelo convés de mãos dadas com o “rapaz”, o que já levanta suspeitas hoje, imaginem há cem anos.

Capitão Kendall correu para o rádio e avisou a Scotland Yard por telegrama. Seguiu-se uma alucinante (lembrem-se, estamos em 1910) perseguição naval com o Laurentic, uma embarcação menor e mais ágil, e com o inspetor Walter Drew a bordo, partindo a toda velocidade. Encontraram-se já na costa canadense, onde, disfarçado, o inspetor finalmente capturou o maníaco e sua amante.
O mais interessante: dias antes, o próprio Clippen, disfarçado, havia comentado com o Capitão que “invenção notável” era a tal rádio. Invento esse que pouco depois providenciaria sua prisão. A história acabou no cinema quatro vezes: os alemães “Dr. Crippen an Bord (1942), Dr. Crippen Lebt (1958), o americano “Dr. Crippen” (1962) e o inglês "The Last Secret of Dr. Crippen" (2004). Hawley Crippen não assistiu a nenhum deles. Acabou enforcado.
fonte

«Hoje ninguém se conforma com viagens mudas»

Na sequência do naufrágio do Titanic, Francisco Correia Herédia apresenta, um mês depois, na Câmara dos Deputados, projecto-lei para instalação de aparelhos T.S.F. a bordo de navios de passageiros.

Diário da Câmara dos Deputados, Sessão n.º 110, de 15 de Maio de 1912, pp.3-4.


"Senhores Deputados - Em todo o mundo civilizado se estuda activamente o melhor meio de evitar, tanto quanto possível, catástrofes marítimas. Assentou-se unanimemente que os aparelhos de telegrafia sem fios eram indispensáveis para garantir, até certo ponto, a vida dos passageiros e tripulações de bordo. Se não são sempre absolutamente eficazes como se viu no caso do Titanic, são no entanto, um poderoso elemento de socorro, que em todas as nações cultas se vai tornar obrigatório para embarcações a vapor com acomodações para um certo número de passageiros.

Se por um lado obrigamos todos os que se destinam às nossas colónias africanas a viajar em vapores portugueses, temos obrigação por outro lado de zelar pela conservação da sua vida.
Não deixando as leis atrasadas em vigor escolha alguma aos que se destinam à nossa África, não é senão justo que, ao menos, os vapores portugueses estejam munidos de telegrafia sem fios, com um raio de acção grande bastante para garantir socorros a tempo. E de resto, hoje ninguém se conforma com viagens mudas. As comunicações com o alto mar tornaram-se tão indispensáveis como as mais elementares comunicações telegráficas em terra.

A bordo de todos os vapores de certa ordem há um jornal contendo notícias de tudo o que se passa no mundo. De bordo dos vapores encomendam-se quartos nos hotéis, enviam-se e recebem-se informações constantes de negócios de família, etc.

Dispenso-me de justificar mais a proposta de lei que tenho a honra de submeter à vossa apreciação, porque a sua utilidade é demasiado evidente.

Artigo 1.º As embarcações portuguesas a vapor com acomodações para mais de cinquenta passageiros ficam obrigadas a instalar a bordo aparelhos de telegrafia sem fios do sistema que melhor lhes convier, dentro do prazo dum mês a contar da publicação do regulamento para a execução desta lei.
Art. 2.º O raio de acção dos aparelhos nunca poderá ser inferior a 200 quilómetros e variará segundo a capacidade no vapor nos termos do regulamento.
Art. 3.º Haverá sempre na estação telegráfica a bordo um telegrafista de serviço permanente, que será revezado conforme as instruções do comandante do vapor.
(...)
Sala das Sessões, em 13 de Maio de 1912, Francisco Correia de Herédia (Ribeira Brava)."

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Rádio Faneca - Ílhavo, anos 70

Houve em tempos no actual Jardim Henriqueta Maia, em Ílhavo, duas cabines sonoras que passavam música e publicidade aos fins de semana, servindo de entretenimento a quem por ali passeava.
Estas duas cabines de som chegaram a transmitir ao mesmo tempo, mas em horários alternados estipulados pela Câmara Municipal (a frequência emitida era a mesma e os ouvintes também!!!).  Extinta a Cabine de Publicidade Ilhavense, restou a Agência Técnica e mais tarde a Publicidade Vouga, até serem desactivados os serviços do correio e vendido o respectivo edifício, por volta de 1998.
Era no Jardim que as pessoas faziam o chamado picadeiro comendo tremoços e pevides e ouvindo os discos, dedicatórias e a publicidade. A primitiva aparelhagem utilizada era constituída por um microfone, amplificador/misturador de válvulas e apenas  2 colunas altifalantes enormes, embutidas numas campânulas em madeira contraplacado, que ofereciam um som muito bom para a altura, dado ainda não haver estereofonia.
Continue esta viagem pela história aqui

O Centro Cultural de Ílhavo apresenta, em 2012, o Festival Rádio Faneca, uma iniciativa inédita, singular e diferente, de cruzamentos das artes performativas, visuais e da música. Realiza-se no Jardim Henriqueta Maia, em pleno Centro Histórico de Ílhavo, entre os dias 5 e 8 de julho, com entrada gratuita em todas as acções programadas.
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